quinta-feira, janeiro 25, 2007

 

Não sei se hei-de rir se hei-de chorar

“O Ministério da Educação promove a atribuição anual de um Prémio Nacional de Professores dirigido a educadores de infância, professores dos 1.º, 2.º e 3.º ciclos do ensino básico e do ensino secundário. O objectivo deste prémio, a conceder a partir de 2007, é reconhecer e galardoar aqueles que tenham contribuído de forma excepcional para a qualidade do sistema de ensino, quer no exercício da actividade docente, quer na defesa de boas práticas e condutas com impacto na dignificação e valorização da escola”.

Não sei se o mais triste é a demagogia barata, se o facto de muita gente acreditar que este tipo de iniciativa serve para alguma coisa. Será que este prémio pode esconder o roubo feito aos professores em termos económicos e a poupança nos cofres do ME verificada com a restruturação da cerreira? E, já agora, alguém acredita que pode realmente mascarar as verdadeiras deficiências que este executivo demonstra em qualificar o ensino em Portugal, com um prémio tão inconsequente?
Não tenho nada contra premiar o mérito, fazer concursos ou dar prémios, mas que competência e que moral tem este executivo para vir falar de competência? Quererão os professores premiados ficar associados a este ME?
Seria muito melhor promover as boas práticas sem este tipo de show of que apenas se destina à opinião pública.

segunda-feira, janeiro 22, 2007

 

Gastar no acessório e penhorar o essencial

Numa notícia do jornal local Badaladas, de Torres Vedras, ficámos a saber da boca do próprio vereador da educação, que as actividades de prolongamento lectivo, ou de complemento curricular (conforme queiram), custaram em 2006 cerca de 1,5 milhões de euros. A autarquia arca com 300 mil e o Ministério da Educação com o resto.
Para as crianças de um concelho de tamanho médio como Torres Vedras estarem mais duas horas na escola a ter Inglês, Música, Actividades Físicas e mais umas coisas, o contribuinte paga um milhão e meio de euros. Trata-se de uma verba verdadeiramente desajustada na relação custo-resultado.
Num Ministério onde nunca há dinheiro para nada, onde as escolas mendigaram durante anos condições, materiais e espaços; parece que agora, para uma medida verdadeiramente populista, se gastam verbas milionárias, que vêem de onde? Provavelmente das poupanças nos ordenados dos professores, na diminuição de professores de apoio e nos professores desempregados. Não há dinheiro para o ensino, mas para o acessório parece que há.
Agora multiplique-se esta verba pelos 300 concelhos do país. Sendo Torres Vedras um concelho de dimensão média, vejam a verba que dá. Eu recuso-me a fazer a conta porque acho pornográfico.
Uma verba destas quase que dava para construir uma escola nova. Na Carta Educativa de Torres Vedras, a previsão para a construção de escolas novas ronda os 3 milhões de euros cada. Ou seja, em dois anos de actividades de prolongamento constrói-se uma escola. E sabemos bem quão degradado e lotado está o parque escolar neste concelho.
Eu não sei que prioridades são estas, mas parece-me que há aqui algo de profundamente errado e demagógico, porque em vinte anos de docência sempre vi as escolas viverem com muitas dificuldades, conheço o centenário e obsoleto parque escolar do 1º Ciclo e o material que dispõe, e agora aparece este montante de verbas a ser deitado ao lixo, sem que isso signifique a melhoria da qualidade das escolas e do ensino? Fico lixado, com certeza que fico lixado…

domingo, janeiro 07, 2007

 

Eduquês, Cratês e Bom-Senso

Há um termo que entrou recentemente nalguns sectores da educação, com mais ou menos projecção, e que surge de uma chamada crítica às ideias românticas em educação veiculadas por um discurso apelidado de “eduquês”, que alguns, como Nuno Crato, criticam como um mal que nos tem atormentado. Isto apesar de ser um discurso e não uma prática... mas se o eduquês apenas mora nos discursos, porque ralarmo-nos com ele? Eu acho o “eduquês”, com todos os seus defeitos, menos perigoso que o “cratês” e passo a explicar:
Simplificando muito posso dividir os professores em dois grupos, em relação às práticas:
1- O bom professor. Aquele que usa o bom senso. Que dá espaço para a individualidade, a descoberta, para a construção do conhecimento, para as relações, para o ser humano crescer, mas também não esquece que há um currículo a cumprir, que há exigência, esforço, que há matérias que têm mesmo que ser “dadas”, decoradas e treinadas e que ele, como professor, tem de as dominar para saber transmiti-las, mas antes de mais é um professor “humano”. Em resumo, aquele que humaniza as práticas tradicionais e usa com bom senso as práticas mais activas ou as chamadas “modernas”.
2- O mau professor. Aquele que fala, fala, fala, fala durante 45, 90 minutos ou uma manhã inteira, exerce uma autoridade desmesurada, limita-se a exigir o empinanço, centra-se nos resultados, põe de rasto os alunos médios ou que aprendem de forma diferente, não desenvolvendo grande parte das capacidades dos seus alunos e pondo ainda fora da escola os mais fracos.
É evidente que se trata de uma redução simplista, mas serve apenas para dizer, que nunca me cruzei com práticas que se possam enquadrar naquilo que Nuno Crato descreve na sua obra crítica do Construtivismo ou Romantismo.
Eu próprio fui formado em Ciências da Educação na década de 80, tirei duas pós- Graduações nos anos 90 e um mestrado no novo século e nunca me “venderam” ideias românticas da educação, onde a autoridade não fosse exercida, ou onde o currículo fosse para colocar no lixo. Não se pode dizer que alguma vez em Portugal se defendeu ou sequer praticou o construtivismo ou romantismo em estado puro em sala de aula, onde a figura do professor se limita a de um pastor de ovelhas. Fazer crer que há professores em Portugal que são formados e que praticam determinada corrente pedagógica de forma crua e dura, é desonestidade intelectual. Onde estão esses exemplos? Eu conheço bem de perto o trabalho e os resultados do Movimento da Escola Moderna e de determinadas correntes pedagógicas que poderemos aproximar desse tal “romantismo construtivista” e nem aí identifico o tal romantismo que fala Nuno Crato. São espaços educativos que usam técnicas pedagógicas diferenciadas, mas que se enquadram dentro de um sistema tradicional de ensino.
Analisar apenas discursos e ler livros não deve ser base para se criticar um sistema de ensino, é preciso saber como ele se pratica e como os actores fazem a “média” entre o que emana da retórica e o que emprestam de si à sua prática.
E é nesta “média” que temos avançado com bom senso, penso eu. Agora, dizer que há uma educação romântica em Portugal, ou que está implantado um discurso desse género, só em delírios. Acho que se tem dado demasiado crédito às ideias “cratistas”. Não gostaria de pensar que isso acontece por saudosismo de alguns ou para esconder a desorientação que outros possam sentir na sua prática.
O que me “lixa” na disseminação do discurso “cratista”, não é o seu contributo válido para a discussão, nem sequer o demasiado e imerecido relevo que lhe dão, mas sim o perigo que representa a ausência de ideias e propostas, ou seja, da inexistência do “como fazer melhor”. Corre-se o risco de confundir a critica, com a defesa do regresso ao passado da escola tradicional no seu pior. Corre-se o risco de, ao criticar o construtivismo, defender a sua erradicação cega. Corre-se o risco de, ao gozar com o romantismo, defender as aulas sem humanismo ou paixão. Corre-se o risco de, ao achincalhar os bons professores, propor o fim de práticas pedagógicas equilibradas e com bom senso. Por isso, criticar sim… mas depois explicar como fazer melhor e para onde caminhar, sem deixar espaço livre para se instalarem os saudosistas da reguada. Mesmo que seja apenas ao nível do discurso.

quinta-feira, janeiro 04, 2007

 

Ano Novo ECD Novo


de Jorge Delmar

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